Altas Habilidades: Uma Análise Do Caso Do Filme Gênio Indomável
Autor: Flavio Andrade
Após o acompanhamento do filme “Gênio Indomável”, pretendo demonstrar particularmente, através de uma reflexão, como o docente deve se preparar para enfrentar os desafios do processo educacional de crianças e adolescentes portadores de habilidades especiais ou altas habilidades (superdotados), como se comportam e como devem ser tratados pelo professor de maneira que possam juntos obter êxito em suas atividades.
O filme Gênio Indomável (1998) demonstra o drama sobre um jovem superdotado de nome Will Hunting com fantástico talento lógico-matemático que é obrigado a fazer terapia para resolver diversos problemas pessoais de raiva, distanciamento emocional e agressividade.
Com Direção de Gus Van Sant, com os atores Matt Damon e Ben Affleck – que também são os roteiristas - Robin Williams, Minnie Driver e Stellan Skarsgård.
O personagem central Will Hunting apresenta memória fantástica, ampla leitura, talento para ciências e imensa capacidade de resolver problemas lógicos e matemáticos extremamente complexos com rapidez e facilidade. Sozinho e sem ter amigos mais íntimos, trabalha numa escola para poder sobreviver. Consegue a simpatia de um professor de matemática excepcional, que tenta ajudá-lo em sua vida social, tentando adaptá-lo ao ambiente escolar sem muito sucesso.
Três cenas merecem destaque particular:
cena onde Will defende a sua própria causa num tribunal com extrema habilidade. Sem nenhuma experiência de Direito, apenas lendo vários livros da mesma área consegue brilhantemente demonstrar suas habilidades;
outra cena onde humilha um aluno da Famosa Universidade de Harvard, que esnobou um amigo seu na presença de outros jovens. Will descreve oralmente alguns trechos de um livro que memorizou;
e uma terceira onde literalmente demonstra a solução de um problema complexo de Matemática a um professor ganhador da prestigiosa Medalha Fields (algo como um Prêmio Nobel).
Na forma em que essas qualidades se manifestam durante o filme, parece tratar-se de um QI entre 180 e 190.
É um excelente filme que revela como a alta superdotação pode nascer mesmo nos ambientes mais desfavoráveis onde existem pressões sociais e financeiras.
Observa-se que na prática pedagógica para portadores de altas habilidades o professor deve aprender com o aluno, como salienta o relatório Jaques DELORS, um dos pilares da educação e da pedagogia para o mundo contemporâneo é aprender a viver juntos (DELORS, 1999). E isto acarreta conseqüências para os estranhos e estrangeiros curriculares que se distanciam nas suas disciplinas, como se vê ao tratar da epistemologia da complexidade(1) .
A prática docente para portadores de altas habilidades deve seguir os mandamentos de Platão. Na República, lembra Platão, o mestre não precisa dar a visão aos seus discípulos, pois estes já tem os seus olhos; basta apenas orientá-los (2).
No filme Gênio Indomável podemos notar o jovem Will, que sem formação acadêmica nenhuma detém conhecimentos por ter uma genética favorável, que recai na renovação dos estudos de PIAGET (1972) que vem sendo feita por meio de avanços dos estudos de genética, bem como por meio dos estudos de MATURANA e VARELA. Este emprega uma metáfora:
a aprendizagem é como música de um móbile preso numa árvore; para que o carrilhão toque sua melodia, é necessário que o vento o ponha em ação, mas a música é específica do carrilhão e não do vento, não é o professor que faz o aprendizado; é o aluno que constrói seu conhecimento, segundo suas estruturas cognitivas pré-formadas geneticamente (3).
Acerca do comportamento de superdotados podemos inferir do estudo das tendências pedagógicas filosóficas as pedagogias humanistas, que classicamente foram pedagogias da essência, modelando sua ação sobre o que a reflexão apontava como sendo homem. Assim, havia modelos, normas e critérios para decidir e programar a ação e prática educativas: a razão era o guia. No existencialismo, contudo, a fonte original de reflexão não é mais a essência e sim a existência enquanto minha existência; então, motiva, como primeira conseqüência, a livre escolha do ser, a liberdade de decisão do eu e em cascata, leva de roldão todas as concepções pedagógicas centradas num modelo do ser ou da pessoa humana. É o aluno que decide o ser, a ele compete a sua decisão: como acontece na escola nova.
Dadas as suas particularidades, as crianças e adolescentes superdotados intelectuais apresentam necessidades específicas a serem atendidas para que se possa maximizar suas chances de um desenvolvimento saudável e feliz. Lázaro (1981) aponta para diversas dessas necessidades, como se pode ver a seguir. Necessidades específicas das crianças e adolescentes superdotados segundo Lázaro (1978):
• Tanto a negação da superdotação por parte dos adultos quanto a exibição dos seus dotes são prejudiciais e tenderão a criar problemas na área emocional e social.
• É tão perigoso exigir desempenho excessivo de um superdotado quanto subestimar sua capacidade.
• O filho superdotado poderá ser um obstáculo à auto-imagem dos seus pais, podendo acarretar comportamentos inadequados de ambas as partes. O filho pode sentir-se como um intruso cujo potencial não deverá mostrar-se tal como é, o que o leva a criar sentimentos de insegurança, impotência, e levando ao desajuste social.
• Quanto mais bem dotados forem os pais de crianças superdotadas, tanto mais capacidade poderão ter para estimular seus filhos adequadamente, desde que não confundam orientação com competição.
• Se o superdotado sente que não é aceito pelo mundo exterior, tenderá a se subestimar, criando grande dificuldade em ver-se como pessoa talentosa e, conseqüentemente, renderá muito menos do que seria capaz em outras circunstâncias.
Também a posição do superdotado na constelação familiar é importante. O primogênito e o filho único tendem a esforçar-se mais por um melhor desempenho em agradar os pais.
Trata-se de um conjunto de questões que são próprias dos indivíduos bem-dotados, as quais requerem atenção especial da parte daqueles encarregados do seu bem-estar.
Para concluir: o educador não só pode como deve estar bem informado, preparado e acima de tudo consciente de que jovens dotados de uma inteligência superior devem ser bem acompanhados na escola e fora dela, mas para isso ele deve desenvolver o senso de aceitação e ajudar no crescimento sóciocultural destes.
1. citado de Tendências Pedagógicas no Mundo Contemporâneo, MOSER et al. 2003, p. 24.
2. PLATÃO. A República. Livro L, VII. Bauru: Edipro, 1994
3. PIAGET, Jean. Seis estudos de psicologia. São Paulo: Forense, 1972.
http://www.artigonal.com/educacao-artigos/altas-habilidades-uma-analise-do-caso-do-filme-genio-indomavel-1902272.html
Perfil do Autor
Flávio Andrade é graduado em Administração pela Universidade Estadual do Maranhão, pós-graduado em Administração pública e é mestrando profissional em Gestão Estratégica de Pessoas (MBA) pela UNICSUL (SP).
Atua também como professor convidado pelo SENAC, é palestrante e consultor pela Maranhão & Assessores, onde trabalha nas áreas de Marketing, RH, planejamento estratégico, Empreendedorismo, entre outras.
